No decurso destes oito anos de pontificado, a pregação e a catequese de Bentto XVI produziram um grande número de escritos (discursos, homilias, mensagens...).
Se alguém tivesse a paciência de passar a vista pelos 13 volumes já publicados dos seus Ensinamentos, poderia facilmente notar não somente a grande riqueza de conteúdos teológicos e espirituais, mas também a limpidez da escritura com que o Papa os torna acessíveis ao vasto público.
De resto, com o seu típico procedimento teológico-narrativo e meditativo-espiritual, Bento XVI não quer apenas escavar na palavra de Deus para dela extrair todos os significados possíveis, mas procura também atualizar os textos, de tal forma que eles não se limitem a ser um conjunto de páginas interpretadas e commentadas, mas sejam palavras vivas, que envolvem profundamente a existência de quem quer realmente encontrar-se com Jesus.
O teólogo ou o exegeta que Ratzinger foi não sufocam nele o pastor de almas que veio a ser. Cada texto está entrelaçado e interage com o outro. Com o passar dos tempos, dir-se-ia que se começa a apreciar cada vez mais, ao lado do acume intelectual que nos era já familiar das suas obras precedentes, a afluência espiritual com que o Papa se põe ao serviço da Palavra. Substancialmente damo-nos conta de que Bento XVI não fala só como teólogo – na realidade nada frio, como lhe foi insinuado –, mas pelo contrário, como intérprete que comunica com simplicidade a mensagem que deve anunciar ao homem de hoje. Esta foi uma grande surpresa nos inícios do seu pontificado.
Tendo aparecido após uma figura carismática como a de João Paulo II, a opinião pública fizera de Bento XVI uma imagem falseada ou parcial, retendo que o novo Papa não pudesse exercer qualquer fascínio especial e sobretudo não pudesse ter aqueles dons comunicativos que tinham engrandecido o seu predecessor. Pelo contrário, a pouco e pouco, as pessoas abriram para ele os olhos e deram-lhe crédito; compreenderam que não tinham perante elas o ilustre teólogo que falava aos especializados, mas um humilde servidor da fé, que procurava acompanhar os crentes e não crentes na procura de Deus e de nós mesmos.
Palavras vãs sem a fé
Bento XVI debruçou-se muitas vezes a falar sobre os mestres da fé e ilustrando o seu pensamento, sobre a natureza e a função da teologia e sobre qual deve ser a missão a que é o teólogo chamado. Das suas reflexões e das suas críticas, compreende-se bem como entende ele o “pensar” a teologia: cada palavra é vã se não se enraíza na essência da fé da qual a Igreja é guardiã, porque a teologia não anuncia teorias pessoais, correndo o risco de ser espelho somente de si própria, mas anuncia e ensina a fé da Igreja. Um outro cume do seu modo de entender a teologia – que se reflete na metodologia, nos conteúdos e no estilo de seus escritos – consiste nisto: a teologia autêntica é em si mesma inseparável da vida espiritual, na sua tensão constante para a santidade. A credibilidade e a subsistência da teologia vêm da oração e do testemunho cristão, que são também eles o substrato da palavra do teólogo. Sem esta inseparável unidade, a teologia permanece «agarrada à mesa onde foi trabalhada» – segundo uma feliz imagem de von Balthasar –, ou seja, é somente um invólucro de palavras estéreis, que recaem sobre si mesmas como flores gastas, porque não recebem a água viva da fonte original.
Pelo contrário, da teologia “feita com os joelhos”, ou seja, duma teologia orante e que por isso dá frutos, porque tem em si o sémen que a fecunda. Esta é a razão porque os santos, mesmo que nada tenham escrito, e às vezes até foram pobres de instrução, são os primeiros teólogos da Igreja: porque rezam, amam e, guiados pelo Espírito, ensinam a doutrina através do dom do seu exemplo, no centro do qual não se vê aí ideias ou palavras suas, mas unicamente o pensamento e o coração de Cristo, que vivem e refletem a luz na Igreja e no mundo. Esta é a teologia, por assim dizer, em ato, que testemunha com a santidade da vida a verdade e o amor de Deus, explica e genera a fé. Muitas vezes na exegese histórico-crítica contemporânea e na exegese antiga da Igreja veio a ser criada uma fratura profunda, como um separador de águas entre o antigo e o novo mundo: o novo mundo (a exegese moderna) não pode andar junta com o antigo (a interpretação tradicional da Igreja).
O teólogo ou o exegeta que Ratzinger foi não sufocam nele o pastor de almas que veio a ser. Cada texto está entrelaçado e interage com o outro. Com o passar dos tempos, dir-se-ia que se começa a apreciar cada vez mais, ao lado do acume intelectual que nos era já familiar das suas obras precedentes, a afluência espiritual com que o Papa se põe ao serviço da Palavra. Substancialmente damo-nos conta de que Bento XVI não fala só como teólogo – na realidade nada frio, como lhe foi insinuado –, mas pelo contrário, como intérprete que comunica com simplicidade a mensagem que deve anunciar ao homem de hoje. Esta foi uma grande surpresa nos inícios do seu pontificado.
Tendo aparecido após uma figura carismática como a de João Paulo II, a opinião pública fizera de Bento XVI uma imagem falseada ou parcial, retendo que o novo Papa não pudesse exercer qualquer fascínio especial e sobretudo não pudesse ter aqueles dons comunicativos que tinham engrandecido o seu predecessor. Pelo contrário, a pouco e pouco, as pessoas abriram para ele os olhos e deram-lhe crédito; compreenderam que não tinham perante elas o ilustre teólogo que falava aos especializados, mas um humilde servidor da fé, que procurava acompanhar os crentes e não crentes na procura de Deus e de nós mesmos.
Palavras vãs sem a fé
Bento XVI debruçou-se muitas vezes a falar sobre os mestres da fé e ilustrando o seu pensamento, sobre a natureza e a função da teologia e sobre qual deve ser a missão a que é o teólogo chamado. Das suas reflexões e das suas críticas, compreende-se bem como entende ele o “pensar” a teologia: cada palavra é vã se não se enraíza na essência da fé da qual a Igreja é guardiã, porque a teologia não anuncia teorias pessoais, correndo o risco de ser espelho somente de si própria, mas anuncia e ensina a fé da Igreja. Um outro cume do seu modo de entender a teologia – que se reflete na metodologia, nos conteúdos e no estilo de seus escritos – consiste nisto: a teologia autêntica é em si mesma inseparável da vida espiritual, na sua tensão constante para a santidade. A credibilidade e a subsistência da teologia vêm da oração e do testemunho cristão, que são também eles o substrato da palavra do teólogo. Sem esta inseparável unidade, a teologia permanece «agarrada à mesa onde foi trabalhada» – segundo uma feliz imagem de von Balthasar –, ou seja, é somente um invólucro de palavras estéreis, que recaem sobre si mesmas como flores gastas, porque não recebem a água viva da fonte original.
Pelo contrário, da teologia “feita com os joelhos”, ou seja, duma teologia orante e que por isso dá frutos, porque tem em si o sémen que a fecunda. Esta é a razão porque os santos, mesmo que nada tenham escrito, e às vezes até foram pobres de instrução, são os primeiros teólogos da Igreja: porque rezam, amam e, guiados pelo Espírito, ensinam a doutrina através do dom do seu exemplo, no centro do qual não se vê aí ideias ou palavras suas, mas unicamente o pensamento e o coração de Cristo, que vivem e refletem a luz na Igreja e no mundo. Esta é a teologia, por assim dizer, em ato, que testemunha com a santidade da vida a verdade e o amor de Deus, explica e genera a fé. Muitas vezes na exegese histórico-crítica contemporânea e na exegese antiga da Igreja veio a ser criada uma fratura profunda, como um separador de águas entre o antigo e o novo mundo: o novo mundo (a exegese moderna) não pode andar junta com o antigo (a interpretação tradicional da Igreja).
Giuliano Vigini
Blogue «Famiglia Cristiana»
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