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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

As três encíclicas de Bento XVI: o Evangelho ao passo da história

Bento XVI assina a encíclica Caritas in veritate: «Por vezes, o homem moderno está erroneamente convencido de ser o único autore de si próprio, da sua vida e da sociedade. Todo o homem é chamado a um desenvolvimento, porque toda a vida é vocação» (Osservatore Romano / Reuters).

Deus caritas est (2005), Spe salvi (2007) e Caritas in veritate (2009): assim a Salvação pode vivificar a sociedade, a política, a economia. Prometeu-no-la no domingo 24 de abril de 2005, durante a solenne concelebração eucarística com que começou o seu ministério de Papa. «Caros amigos», disse Bento XVI, «não preciso apresentar um programa de governo». Ele, acrescentou, consiste pelo menos em «não fazer a minha vontade, nem em não persistir nas minhas ideias, mas pôr-me em escuta, com toda a Igreja, da Palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por ele, de forma que seja ele mesmo a guiar a Igreja nesta hora da nossa história».

Joseph Ratzinger foi homem de palavra. A sua herança melhor, de facto, ficou representada em seus dez discursos. Nas suas homilias. Nas suas catequeses. Nos seus livros. E em especial nas suas três encíclicas, fruto de diálogo e de confronto, de estudo e de paixão. A Deus caritas est foi publicada em 2005, a Spe salvi em 2007. A Caritas in veritate é de 2009. Quando saiu, a Deus caritas est surpreendeu e fez discutir. Normalmente um Pontífice exorta com uma encíclica programática: a muitos comentadores aquele documento não pareceu tal. Trata-se na realidade de um juízo sumário, que não tem em conta a natureza e o desejo mais autêntico de Joseph Ratzinger, apaixonado crente, fino teólogo, tenaz pastor. A Deus caritas est não impõe, é verdade, prioridades típicas de uma agenda política. Mas repropõe o coração da mensagem cristã, religião da caridade e não da lei. O ser cristão, afirma-se com abundância de argumentações, não se apoia ssobre uma decisão ética ou sobre uma grande ideia, mas brota do encontro com um acontecimento, com uma pessoa.

O eclipse dos valores gera crises
Em novembro de 2011, dirigindo-se aos participantes da assembleia plenária do Pontifício Conselho dos Leigos, Bento XVI sugeriu uma ligação entre a primeira e a segunda encíclica, um fio que para falar verdade atravessa toda a existência. O Papa insiste no tema: “A questão de Deus hoje”. «Nunca nos devemos cansar de repropor tal pergunta», disse Joseph Ratzinger, «de “recomeçar de Deus”, para voltar a dar ao homem a totalidade das suas dimensões, a sua plena dignidade. De facto, uma mentalidade que se tem divulgado no nosso tempo, renunciando a toda a referência ao transcendente, demonstrou-se incapaz de compreender e preservar o homem. A difusão desta mentalidade gerou a crise em que vivemos hoje, que é uma crise de significado e de valores, antes de ser uma crise económica e social. O homem que se esforça por existir somente positivisticamente, no calculável e no palpável, no fim de contas é sufocado. Neste quadro a questão de Deus é, num certo sentido, “a questão das questões”. Ela leva-nos às perguntas de fundo que o homem coloca, às aspirações de verdade, de felicidade e de liberdade inscritas no seu coração, que procuram uma realização. O homem que desperta em si a pergunta sobre Deus abre-se à esperança, a uma esperança de confiança, pela qual vale a pena enfrentar a fadiga do caminho no presente» (Spe salvi, 1).

A Caritas in veritate, por fim. A encíclica social que se ocupa de economia, em plena crise, mas que levanta e alarga o olhar. «A verdade do desenvolvimento consiste na sua integralidade», observa Bento XVI. «Se não é de todo o homem e de cada homem inteiro, o desenvolvimento não é verdadeiro desenvolvimento. Esta é a mensagem central da Populorum progressio, válida hoje e sempre». Aqui chegados, voltamos ao início: «Sem Deus o homem não sabe para onde vai e não nem sequer consegue compreender quem seja. Somente um humanismo aberto ao absoluto pode guiar-nos na promoção e realização de formas de vida social e civil, salvaguardando-nos do risco de cair prisioneiros das modas do momento».

Alberto Chiara
blogue da revista «Famiglia cristiana»

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