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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

«Bento XVI será considerado um grande Papa na história da Igreja»


D. Manuel Monteiro de Castro preparava-se para um reforma tranquila quando foi chamado por Bento XVI e nomeado cardeal e Penitenciário-Mor da Santa Sé. Hoje ocupa-se dos pecados mais graves dos cristãos e ainda tem tempo para ajudar a decidir sobre a beatificação e canonização de várias personalidades, incluindo portugueses, de quem promete novidades em breve, sem especificar casos. Recebeu a Família Cristã na Penitenciaria, em Roma, sobre o seu passado, Bento XVI e a sua primeira participação num Conclave.

Como é que chega à Cúria? 
Vim para cá em 1967. Já tinha trabalhado com o Papa Paulo VI, e depois andei pelos diversos país do mundo enquanto membro do corpo diplomático. Em 2009 terminei o trabalho em Madrid e pensei regressar finalmente a casa, mas fui convidado para vir para a congregação dos bispos. Mais tarde o Santo Padre nomeou-me para Penitenciário-mor e aqui estou com os meus 74 anos.

Que trabalho faz o Penitenciário-Mor? O penitenciário-mor tem dois trabalhos: um que se refere a todos os problemas de carácter interno e outro ligado às indulgências, que é o trabalho mais importante. Recebemos correspondência do mundo inteiro sobre estes problemas, e procuramos atender toda a gente, pois é muito útil quando há cerimónias muito importantes que se distinguem com indulgência plenária.

E os casos de foro interno? 
Há situações que só o Santo Padre absolver, os sacerdotes não podem. Esses casos são passados pelo Santo Padre à Penitenciaria, que os analisa e indica o tratamento. Falamos por exemplo de pessoas católicas que entrem em seitas e que violem o Santíssimo Sacramento. Infelizmente, isso acontece em diversas partes do mundo, irem ao altar, roubarem o santíssimo, ou guardarem a hóstia da comunhão… quando mais tarde essas pessoas veem que procedem mal e se vão confessar, o sacerdote vai dizer-lhes que esse é um assunto reservado à Santa Sé. O confessor comunica connosco e expõe o caso, sem nunca indicar nomes, e nós vamos dar-lhe algumas indicações para ele passar a essa pessoa, como se fosse um remédio, mais do que uma penitência, algo que faça a pessoa sentir-se melhor e mais tranquila. Pode passar por períodos de adoração, ou outra coisa. Passamos isto ao sacerdote confessor, que passa à pessoa em causa e a apoia.

Este é um Papa com quem tem uma relação especial, por ter sido ele a nomeá-lo. Como é que viu toda esta questão da resignação? 
Eu soube no momento, pois estávamos numa reunião normal com o santo Padre, e no final ele disse o que disse. Segundo o meu modo de ver, ele fez muito bem. Tem 85 anos, e vê que o mundo de hoje necessita de alguém com outras forças. Temos relações com 180 países, o Santo Padre tem muitos encontros e viu que já não tinha forças. Mas ele também disse que nunca deixará de estar connosco.

Como avalia a sua atitude? 
Vejo uma atitude nobre, uma atitude de alguém que sabe onde se encontra e que procura o bem-estar das pessoas. E este é o único motivo. As outras histórias que aparecem à volta não interessam. Desde que a Igreja nasceu, desde S. Pedro, tivemos sempre quem nos atacasse. E não é apenas a Santa Sé, porque as nunciaturas, as dioceses e as paróquias também têm sempre gente que está contra elas. O problema é que quando vamos a analisar, estas pessoas que estão contra não fazem mais nada a não ser estar contra.

Quando daqui a uns anos escreverem a história da Igreja, o que vai estar escrito no capítulo destinado ao pontificado de Bento XVI? 
Vai estar escrito que Bento XVI será considerado um grande Papa na história da Igreja, que deu passos notáveis em vários campos. Desde o Concílio Vaticano II que tentámos desenvolver relações com as outras religiões, mas ele deu passos muito importantes, com o Islão, Arábia Saudita, por exemplo, e com todo o mundo. Quando iniciei o meu exercício diplomático éramos 64 embaixadas, hoje temos 180, cobrimos quase o mundo inteiro e as pessoas sabem que é importante o trabalho da Santa Sé.

E é esse o legado que Bento XVI deixa? 
Deixa um legado de amor profundo à Igreja. Fez um estudo profundo daquilo que o Senhor nos deixou, e é aí que vêm as dificuldades. Muita gente quer que estudemos o que Bento XVI pensa, e ele diz-nos que devemos estudar aquilo que o Senhor deixou: os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos… se apresentarmos isso, é o mais certo.

Foi um Papa pensador que preparou o caminho para outros Papas mais pastorais? 
Este foi também um Papa pastoral. É muito difícil dizer que um foi menos que o outro. Passei por vários Papas e todos foram diferentes, mas prestaram todos um serviço inestimável à Igreja.

O Papa disse que continuaria a fazer o seu trabalho… 
Ele disse que iria continuar a fazer o seu trabalho rezando.

E será só isso? 
Bom, ele pode fazer o que quiser, não fica impedido de nada. Mas ele disse-me que se dedicaria à oração, e é natural que também escreva algo. Ele deixa uma obra maravilhosa, e vai ser com certeza considerado um dos Padres da Igreja, deixou obras que serão únicas no pensamento.

Olhando para a Igreja de hoje, quais são os principais problemas que identifica? 
A Igreja hoje tem de levar a palavra do Senhor a todos, é o mais importante. Levá-la o melhor possível, atendendo às condições de cada um nas diferentes partes do mundo. Temos de nos adaptar a cada zona, mas o que é importante é transmitir a nossa fé em Deus através da nossa vivência, porque é a nossa conversa com o Senhor que é importante. Só depois desta conversa é que poderemos ajudar os outros a também se reconhecerem como filhos de Deus.

Estas reuniões preparatórias do Conclave poderão ajudar a perceber o perfil do próximo Papa? 
Não vejo como isso possa acontecer. Teremos as reuniões, sim, mas depois no Conclave cada um votará por si, não há nenhum perfil preparado.

Mas a idade será um aspeto a considerar… 
Sim, a idade pode ser importante, como outros fatores. Mas mais importante é alguém que se dedique totalmente ao Senhor.

Mas seria importante conseguir um pontificado maior no tempo? 
Este não foi um pontificado muito pequeno, foram 8 anos, mesmo assim. Mas vamos ver, vamos ver…

Vai ser o seu primeiro conclave. Nervoso? 
Nervoso, eu? Não, claro que não (risos). Nervoso porquê?

É uma grande responsabilidade… 
Sim, é, mas não estou nervoso, nem creio que vá ficar.

Já sabe como será o Conclave? 
Sim, não é segredo. Sou formado em Direito Canónico, e todos os procedimento estão escritos eu conheço-os já, portanto não haverá novidades para além daquelas que o Santo Padre anunciou com o Motu Proprio.

Como é que sente que vai ser participar numa coisa histórica? 
Sinto-me muito feliz por mim, e também por Portugal, que assim voltar a ter dois cardeais no Conclave. Nunca pensei chegar aqui, a minha vida foi o corpo diplomático e não pensei que chegaria aqui. Mas nunca disse que não e enquanto o Senhor me der forças aqui estarei para servir a Igreja, aqui e no Conclave.

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