Terminadas que estão as Congregações gerais dos cardeais em
Roma, todas as atenções se voltam para o Conclave, que elegerá o próximo Papa.
Por todo o mundo, diversos órgãos de comunicação social têm alvitrado palpites
sobre quem será o próximo Papa, mas a tradição diz que, no Conclave, «quem
entra Papa sai Cardeal». Nem Karol Wojtyła
nem Joseph Ratzinger estavam nos planos dos «especialistas» que, por estes
dias, enchem televisões, rádios e jornais com opiniões de quem é a melhor
pessoa para assumir a Cadeira de S. Pedro, e no entanto foram escolhidos para
serem Papas.
Parece contra natura que num tempo em que a comunicação e o
mediatismo cercam todos os acontecimentos importantes, a Igreja se feche em
silêncio e “segredo” e impeça que 5600 jornalistas, provenientes de mais de
1000 órgãos de comunicação social, possam noticiar todos os pormenores sobre
este acontecimento histórico. Mas isto é apenas a Igreja a manter-se fiel às
suas raízes. O caminho de discernimento que leva à escolha de um Papa não pode
ser interrompido por questões menores como entrevistas, opiniões ou reações, é uma
jornada de reflexão íntima, que será levada a cabo pelos cardeais num espaço
previamente isolado de toda a comunicação com o mundo exterior. Sem televisão,
internet ou rádio, pois nada mais interessa naquele momento que não seja a
eleição do Pastor da Igreja Católica para os próximos anos. Posição, aliás, à
qual não se opõem os católicos, que apenas desejam que a escolha do próximo
Papa seja influenciada pelo Espírito Santo, não por nenhum TotoPapa que se faça
em casas de apostas ou por influência deste ou daquele grupo de pressão.
Não podendo adivinhar quem será o próximo Papa, nem podendo
saber que conversas entre cardeais aconteceram esta semana, resta-nos seguir as
«migalhas» que nos foram sendo deixadas quer pela Sala de Imprensa da Santa Sé,
onde o Pe. Lombardi tentou, todos os dias, auxiliar o máximo possível os
jornalistas presentes em Roma, fornecendo-lhes pistas, e as próprias
declarações dos cardeais americanos, que nos primeiros dias falavam para a
imprensa americana, hábito rapidamente quebrado depois de uma partilha da parte
dos cardeais numa das congregações, na qualificou clara que o silêncio era a
“alma do negócio”.
Antes de mais, é interessante verificar que antes de se
iniciarem as congregações gerais, já os cardeais se escusavam a tecer grandes
considerações sobre o próximo Papa. Apesar disso, em grande parte dos
discursos, aquilo que parecia mais comum a todos era o aspeto da idade. Parece
senso comum entre os cardeais que a Igreja precisa de um Papa mais novo, que
promova um pontificado mais longo e estável que o anterior. D. José Policarpo,
aliás, falando aos jornalistas em Lisboa, afirmava que a história era fã destes
ciclos: «a um pontificado mais curto, segue-se sempre um mais longo», dizia o
prelado ainda em Lisboa.
Depois destas considerações, vieram as Congregações,
reuniões de todos os cardeais onde basicamente se ouviam intervenções de
cardeais que se propunham falar. Foram mais de 100 os cardeais que pediram a
palavra e a usaram. Não se conhece o conteúdo das intervenções, nem os seus
autores, mas o Pe. Lombardi lá foi adiantando os tópicos de conversa mais
debatidos por esses dias:
- Renovação da Igreja à luz do Concílio Vaticano II,
- Situação da Igreja e as exigências da Nova Evangelização
no mundo e a relação da Igreja com as diferentes culturas
- Ecumenismo
- Esforços da Igreja no trabalho caritativo, com os pobres
- Diálogo inter-religioso, que ainda não se tinha falado
- Cultura, bioética, justiça no mundo
- Importância de um anúncio positivo do cristianismo
Além destes temas, o Pe. Lombardi referiu ainda que tinha
sido preocupação dos cardeais que intervinham falar naquele que seria o perfil
do próximo Papa. Esta insistência em abordar este assunto da parte dos cardeais
reforça a ideia de que este será um Conclave rápido, como o anterior, já que
este trabalho de partilha de ideias e conceções prévio permitiu criar senão um,
pelo menos alguns perfis sobre quem poderiam os cardeais escolher para liderar
a Igreja.
Obviamente que não é possível traçar daqui um perfil do
Papa, ou indicação de quem será o eleito, mas é possível perceber a preocupação
dos cardeais com as questões mais relacionadas com a relação da Igreja para
fora – os pobres, o ecumenismo, o diálogo inter-religioso – e com a relação da
Igreja para com os seus fiéis, com as intervenções dos cardeais que quiseram
falar sobre a renovação da Igreja, a Nova Evangelização e um anúncio positivo
do Cristianismo. Mais do que propriamente discutir os fundamentos da fé ou as
razões que poderiam conduzir a alterações dentro da própria Igreja, temas cuja
pressão de tantos jornais e grupos externos à Igreja poderiam colocar aos
cardeais, sai destas reflexões uma aparente necessidade de continuar a trilhar
o caminho começado por João Paulo II e continuado por Bento XVI, no sentido da
Nova Evangelização, do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, e do trabalho
caritativo, uma das áreas onde a Igreja é cada vez mais essencial nos dias de
hoje.
Foto L'Osservatore Romano |
Ricardo Perna
Revista Família Cristã
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