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segunda-feira, 11 de março de 2013

Vem aí o Conclave

Terminadas que estão as Congregações gerais dos cardeais em Roma, todas as atenções se voltam para o Conclave, que elegerá o próximo Papa. Por todo o mundo, diversos órgãos de comunicação social têm alvitrado palpites sobre quem será o próximo Papa, mas a tradição diz que, no Conclave, «quem entra Papa sai Cardeal». Nem Karol Wojtyła nem Joseph Ratzinger estavam nos planos dos «especialistas» que, por estes dias, enchem televisões, rádios e jornais com opiniões de quem é a melhor pessoa para assumir a Cadeira de S. Pedro, e no entanto foram escolhidos para serem Papas.

Parece contra natura que num tempo em que a comunicação e o mediatismo cercam todos os acontecimentos importantes, a Igreja se feche em silêncio e “segredo” e impeça que 5600 jornalistas, provenientes de mais de 1000 órgãos de comunicação social, possam noticiar todos os pormenores sobre este acontecimento histórico. Mas isto é apenas a Igreja a manter-se fiel às suas raízes. O caminho de discernimento que leva à escolha de um Papa não pode ser interrompido por questões menores como entrevistas, opiniões ou reações, é uma jornada de reflexão íntima, que será levada a cabo pelos cardeais num espaço previamente isolado de toda a comunicação com o mundo exterior. Sem televisão, internet ou rádio, pois nada mais interessa naquele momento que não seja a eleição do Pastor da Igreja Católica para os próximos anos. Posição, aliás, à qual não se opõem os católicos, que apenas desejam que a escolha do próximo Papa seja influenciada pelo Espírito Santo, não por nenhum TotoPapa que se faça em casas de apostas ou por influência deste ou daquele grupo de pressão.

Não podendo adivinhar quem será o próximo Papa, nem podendo saber que conversas entre cardeais aconteceram esta semana, resta-nos seguir as «migalhas» que nos foram sendo deixadas quer pela Sala de Imprensa da Santa Sé, onde o Pe. Lombardi tentou, todos os dias, auxiliar o máximo possível os jornalistas presentes em Roma, fornecendo-lhes pistas, e as próprias declarações dos cardeais americanos, que nos primeiros dias falavam para a imprensa americana, hábito rapidamente quebrado depois de uma partilha da parte dos cardeais numa das congregações, na qualificou clara que o silêncio era a “alma do negócio”.

Antes de mais, é interessante verificar que antes de se iniciarem as congregações gerais, já os cardeais se escusavam a tecer grandes considerações sobre o próximo Papa. Apesar disso, em grande parte dos discursos, aquilo que parecia mais comum a todos era o aspeto da idade. Parece senso comum entre os cardeais que a Igreja precisa de um Papa mais novo, que promova um pontificado mais longo e estável que o anterior. D. José Policarpo, aliás, falando aos jornalistas em Lisboa, afirmava que a história era fã destes ciclos: «a um pontificado mais curto, segue-se sempre um mais longo», dizia o prelado ainda em Lisboa.

Depois destas considerações, vieram as Congregações, reuniões de todos os cardeais onde basicamente se ouviam intervenções de cardeais que se propunham falar. Foram mais de 100 os cardeais que pediram a palavra e a usaram. Não se conhece o conteúdo das intervenções, nem os seus autores, mas o Pe. Lombardi lá foi adiantando os tópicos de conversa mais debatidos por esses dias:

- Renovação da Igreja à luz do Concílio Vaticano II,
- Situação da Igreja e as exigências da Nova Evangelização no mundo e a relação da Igreja com as diferentes culturas
- Ecumenismo
- Esforços da Igreja no trabalho caritativo, com os pobres
- Diálogo inter-religioso, que ainda não se tinha falado
- Cultura, bioética, justiça no mundo
- Importância de um anúncio positivo do cristianismo

Além destes temas, o Pe. Lombardi referiu ainda que tinha sido preocupação dos cardeais que intervinham falar naquele que seria o perfil do próximo Papa. Esta insistência em abordar este assunto da parte dos cardeais reforça a ideia de que este será um Conclave rápido, como o anterior, já que este trabalho de partilha de ideias e conceções prévio permitiu criar senão um, pelo menos alguns perfis sobre quem poderiam os cardeais escolher para liderar a Igreja.

Obviamente que não é possível traçar daqui um perfil do Papa, ou indicação de quem será o eleito, mas é possível perceber a preocupação dos cardeais com as questões mais relacionadas com a relação da Igreja para fora – os pobres, o ecumenismo, o diálogo inter-religioso – e com a relação da Igreja para com os seus fiéis, com as intervenções dos cardeais que quiseram falar sobre a renovação da Igreja, a Nova Evangelização e um anúncio positivo do Cristianismo. Mais do que propriamente discutir os fundamentos da fé ou as razões que poderiam conduzir a alterações dentro da própria Igreja, temas cuja pressão de tantos jornais e grupos externos à Igreja poderiam colocar aos cardeais, sai destas reflexões uma aparente necessidade de continuar a trilhar o caminho começado por João Paulo II e continuado por Bento XVI, no sentido da Nova Evangelização, do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, e do trabalho caritativo, uma das áreas onde a Igreja é cada vez mais essencial nos dias de hoje.

Foto L'Osservatore Romano
Ler mais do que isto é difícil, e provavelmente não interessa. É altura de deixar o Espírito Santo atuar, e aguardar com serenidade orante, coisa que, parecendo estranha ao mundo mediático e exterior, é tão correto para quem se habituou a uma vida de oração e de certeza de que somos mais do que corpo. A partir de amanhã, o mundo aguarda em suspenso pelo fumo branco que sairá da Capela Sistina, preparando-se para correr em direção à Praça de S. Pedro, ou ao televisor ou computador mais próximo, conforme a localização geográfica de cada católico, para receber o próximo Papa. Sem pressas, exigências ou expectativas, mas em oração.

Ricardo Perna
Revista Família Cristã

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