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quarta-feira, 6 de março de 2013

O próximo Papa «tem de procurar resolver os problemas da Família»

O Cardeal Saraiva Martins é um dos sete cardeais bispos existentes na Igreja. Depois de anos a proclamar beatos e santos, Bento XVI atribuiu-lhe este cargo de importância. Numa entrevista concedida à Família Cristã e ao Diário de Notícias, falou de Bento XVI e do seu sucessor.  

O que fica do pontificado de Bento XVI? 
Deixa coisas muito positivas. Deve ser considerado uma continuação do pontificado de João Paulo II. As pessoas contrapõem um contra o outro, mas Bento XVI não fez senão seguir as pegadas do seu predecessor. Com uma estrutura diferente, um modo de ser diferente. Há uma identidade absoluta entre os dois Papas.

Quais são os problemas que o novo Papa terá de abordar? 
O Papa tem de governar consoante as necessidades do momento. Tem de procurar resolver os problemas da família, para mim é o problema fundamental. Pois há muitos outros problemas que dependem do problema da família, como o problema da juventude. Somos responsáveis pela sociedade de amanhã, de formar os jovens com valores. Há certos valores humanos que hoje são muito descuidados, e que são também valores cristãos. Porque tudo o que é autenticamente humano é cristão e tudo o que é genuinamente cristão é humano. Quando a igreja defende os jovens e os valores humanos defende uma realidade que é humana e cristã. Sem esquecer os problemas da paz, que também são fundamentais.

Acha que o Papa devia ter uma abordagem mais concreta para os problemas? 
Isso não depende só do Papa, mas dos pastores da igreja universal. O Papa pode indicar o caminho a seguir, mas depois são os bispos e padres que têm de insistir sobre esses valores.

Qual o perfil do próximo Papa? 
Tem de seguir as pegadas de João Paulo II e Bento XVI. Enfrentar esses problemas. O novo Papa tem de sair das pegadas dos seus dois antecessores.

A sociedade fala da contraceção, da ordenação das mulheres… 
A igreja preocupa-se também com esses problemas, não porque a sociedade dita para a agenda da igreja, mas porque acredita que são contra o Evangelho. A sociedade pode levantar a voz, mas a igreja está atenta. Outro valor fundamental para a Igreja é a heterossexualidade. Para a igreja é evidente que Deus criou o homem e a mulher, pelo que é inútil criar certas teorias. E a igreja defenderá sempre estes valores, independentemente do rumo que a sociedade tomar. E ainda bem que a Igreja é sempre muito firme a defender estes valores.

É um dossiê fechado, que não tem de ser modificado? 
Os princípios não. Depois há a questão dos direitos dos homossexuais e das uniões de facto. Os governos têm o dever de defender os direitos dessas pessoas, mas não se pode negar a realidade. A igreja será sempre contra a homossexualidade e as uniões de facto. Muitos governos da europa procuram que essas uniões de facto prevaleçam. Se pensam que podem viver homem com homem é questão deles, mas não é este o valor do Evangelho, do Homem. A igreja não ignora que essa realidade existe. Claro que qualquer homem tem direito, do ponto de vista económico e social, de ser como entende. Naturalmente a igreja sabe que os governos têm de ajudar os que estão nesta situação, mas nunca negará os princípios do Evangelho.

A igreja também tem estes problemas no seio do clero... 
Na igreja há pecadores, já foi previsto por Jesus, por isso instituiu o sacramento da Reconciliação. A igreja necessita de se santificar. Nunca negou que no seu seio há pessoas que não seguem os princípios do Evangelho, mas não é preciso exagerar. Há um caso ou outro, mas não se pode exagerar e generalizar. Quem é homossexual sabe bem o que diz a igreja, depois se peca por fraqueza é outra coisa.

Como é a experiência de participar num Conclave? 
(risos) Lá dentro não acontece nada de especial, tudo acontece com a maior naturalidade e serenidade. Vivemos juntos e comemos juntos aqueles dias, é como se fossemos uma família. Cada um já está a pensar em quem vai votar. Não combinam encontros. Mas se tenho alguma dúvida, o que pensa aquele colega, vou ter com ele diretamente. Porque há muitos cardeais que não se conhecem entre si, há as congregações três dias antes, onde todos os cardeais se reúnem para discutir os problemas reais da sociedade e da igreja que terá de enfrentar o novo Papa. Ficam todos a conhecer os problemas dos locais onde estes cardeais vêm.

Tendo em conta as notícias que têm vindo a público, acha que os cardeais que vêm de fora virão pedir contas aos da Cúria, do género, «digam lá o que se esta passar»? 
E agora pergunto eu: quais são esses problemas da Cúria? Posso-lhe dizer que não há problemas na Cúria. Pode haver uma diversidade de opiniões, mas com plena liberdade discute-se.

O Papa pediu um relatório a três cardeais. Acha que deve ser divulgado no Conclave? 
É uma decisão do Papa. No Conclave não se discute, discute-se antes. É só para votar. É preciso proceder com muita prudência, não para ocultar as coisas, pois pode ser perigoso. É preciso ver o que lá se diz. Nem tudo o que acontece, se pode dizer assim, a bem da sociedade. Acabam por sair conversas, mas modificadas nas notícias. Acho que o Papa que vier se quiser pode divulgar. Acho que sim.

Fala-se muito na reforma da cúria. É importante avançar com ela?
É normal que se pense na reforma da cúria, é uma instituição que pode ser modificada. Já no outro Conclave se falava muito de reformar a Cúria. Não há norma que diga que não se pode reformar. A reforma é necessária em todos os campos da sociedade. Mas é preciso estudar antes a melhor forma de a fazer.

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