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terça-feira, 19 de março de 2013

«O verdadeiro poder é o serviço»

Teve hoje lugar a missa solene de início do pontificado do Papa Francisco. Desde bem cedo que milhares de pessoas começaram a encher a Praça de S. Pedro e as vias circundantes. Quando chegou à Basílica, e aproveitando o sol que brilhou toda a manhã, Francisco fez uma passagem junto dos fiéis num jipe de telhado descoberto. Abençoou várias crianças, e fez questão de pedir que parassem o carro junto a um doente com paralisia cerebral, que reagiu com um sorriso ao ser beijado na cabeça pelo Papa.


Seguindo todos os ritos necessários à tomada de posse, Francisco esteve no túmulo de S. Pedro, onde rezou, e de onde saiu para cá fora, onde a multidão aguardava pelo início da cerimónia.


S. José, o «Guardião»
Recebeu o anel do pescador e o pálio, e assim se iniciou solenemente o seu pontificado. A cerimónia ficou também ela marcada pela simplicidade. As leituras apenas em Grego e outros pormenores tornaram a celebração mais curta, mas nem por isso menos vivida pelos fiéis ou menos forte na sua mensagem.
Francisco dedicou a sua homilia à figura de S. José, o «guardião» de Jesus e Maria, e como tal, de toda a Igreja, que vive a sua missão «disponível mais ao projeto d’Ele que ao seu». «Como realiza José esta guarda? Com discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender», referiu o Papa.

O santo Padre fez o paralelismo entre José e os cristãos de hoje, e sobre a forma de como devem responder «à vocação de Deus». «Nele [em S. José], queridos amigos, vemos como se responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criação!», exortou. Segundo referiu o Papa em seguida, «a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos», e citando S. Francisco de Assis, o santo que o inspirou a escolher o seu nome de Papa, afirmou que é preciso «ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos». «É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus!»

A chamada para ação de todos não se ficou por aqui. Sempre em tom pastoral, Francisco dirigiu-se me seguida aos detentores de cargos de poder governantes. «Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito económico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos «guardiões» da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo!», pediu, de forma convicta.

Recados internos 
Os apelos ao respeito pelos outros não se ficaram apenas para os governantes. Francisco abordou também o seu próprio ministério petrino e, com ele, todos os ministérios da Igreja. «Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão (cf. Mt 25, 31-46). Apenas aqueles que servem com amor são capazes de proteger», defendeu.

Neste sentido, Francisco pediu que todos os fiéis se sentissem chamados aos desafio de «guardar Jesus com Maria, guardar a criação inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais pobre», e «guardarmo-nos a nós mesmos». Antes de pedir que rezassem por ele e pelo seu ministério petrino, o Papa deixou um repto: «guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!»

Apesar de simplificada, esta foi uma celebração histórica, pelo menos no que diz respeito às relações com as igrejas orientais e diferentes confissões cristãs e religiosas. Estiveram presentes delegações de quase 150 países, e cerca de 30 chefes de Estado, que o Papa fez questão de cumprimentar um a um, no final da celebração, já dentro da Basílica de S. Pedro, incluindo Aníbal Cavaco Silva e a esposa e o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas. Encaminhados pelo Mons. Bettencourt, chefe de Protocolo da Secretaria de Estado, sacerdote português que mantém o cargo para o qual foi nomeado por Bento XVI em novembro do ano passado, representantes políticos dos mais diversos pontos do mundo cumprimentaram Francisco, que a todos deu uma palavra e um sorriso.

A missa de inauguração do pontificado de Francisco tornou-se também um marco histórico do ponto de vista do diálogo ecuménico, uma vez que contou com a presença do Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla, o primeiro em honra e dignidade da Comunhão Ortodoxa. Um Patriarca de Constantinopla não marcava presença numa celebração destas desde antes de 1054, quando as duas igrejas se separaram, segundo informação avançada pela Renascença. Durante a celebração o Papa fez questão de saudar de forma especial, na altura do abraço da paz, o Patriarca Bartolomeu, que foi conduzido ao altar para o efeito.

A Renascença aponta ainda, no seu sítio Web, para a presença de vários representantes ortodoxos, incluindo da Igreja Copta, que não está em comunhão nem com Roma nem com Constantinopla, e de membros de igrejas reformadas ou protestantes. Entre estes destaca-se o Arcebispo de York, John Sentamu, que viajou em representação do Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, cuja própria cerimónia de instalação será dentro de dois dias, no Reino Unido.

 Este início do pontificado será seguido, nos próximos dias, da cerimónia de tomada de posse da catedral de S. João de Latrão, catedral de Roma, diocese que está a cargo de Francisco.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Papa recusa pessimismo e elogia «velhice»

O Papa Francisco deixou hoje um apelo contra o «pessimismo» na Igreja, num encontro com os cardeais que se encontram no Vaticano, e elogiou a atualidade da mensagem cristã, bem como a «velhice», citado pela Agência Ecclesia. «Não cedamos nunca ao pessimismo, à amargura que o diabo nos oferece todos os dias: não cedamos ao pessimismo e ao desencorajamento», disse, falando várias vezes de improviso, apesar de ter um texto preparado.

Segundo o Papa, a Igreja deve ter «a coragem de perseverar e também de procurar novos métodos de evangelização» para levar a sua mensagem a «todos os confins da terra». «A verdade cristã é atraente e persuasiva porque responde à necessidade profunda da existência humana, anunciando de maneira convincente que Cristo é o único salvador do homem todo e de todos os homens», acrescentou.
Francisco sublinhou que este anúncio «continua válido hoje como foi no início do Cristianismo, quando se operou a primeira grande expansão missionária do Evangelho».
O Papa, de 76 anos, destacou por outro lado o facto de uma parte dos membros do Colégio Cardinalício se encontrar já na «velhice». «A velhice, gosto de o dizer assim, é a sede da sabedoria da vida. Os velhos têm a sabedoria de ter caminhado na vida», observou. Francisco convidou os cardeais a oferecerem esta sabedoria às novas gerações: «Como o vinho bom, que com os anos se torna melhor, dêmos aos jovens a sabedoria da vida».

O pontífice elogiou o «clima de grande cordialidade» com que decorreu o processo eleitoral, iniciado na terça-feira. «Nós somos irmãos – alguém me dizia que os cardeais eram os padres do Papa -, somos aquela comunidade, aquela amizade, aquela proximidade que nos faz bem a todos».
O Papa argentino disse que o período do Conclave, que se concluiu na quarta-feira à noite com a sua eleição, foi marcado pelo «afeto e solidariedade da Igreja universal», bem como pela «atenção de muitas pessoas que, embora não partilhando» a fé cristã «olham com respeito e admiração para a Igreja e a Santa Sé».

Francisco evocou a «sugestiva imagem» do primeiro encontro com a multidão, desde a varanda central da Basílica de São Pedro, antes de manifestar o seu «sincero reconhecimento» a todos os que o acompanharam nestes dias. O novo Papa quis deixar uma palavra particular ao cardeal argentino Jorge María Mejía, de 90 anos, que na quinta-feira sofreu um enfarte e está no hospital, e recordou ainda o pontificado de Bento XVI, seu predecessor.

O bispo emérito de Roma, como Francisco o denominou na quarta-feira, deixou um «património espiritual para todos» e deixou «uma chama» no coração de todos, elogiando o «gesto corajoso e humilde» da renúncia ao pontificado.

O encontro iniciou-se com uma saudação do decano (presidente) do Colégio Cardinalício, D. Angelo Sodano, ao qual Francisco, de 76 anos, deu um abraço, saindo do seu lugar e quase tropeçando por causa do estrado sobre o qual está colocada a sua cadeira. O novo Papa esteve depois longos minutos, de pé, a cumprimentar pessoalmente cada cardeal, incluindo os três portugueses: D. José Saraiva Martins, D. José Policarpo e D. Manuel Monteiro de Castro.

quinta-feira, 14 de março de 2013

«Caminhar, edificar e professar Jesus Cristo crucificado»


O Papa Francisco celebrou hoje a sua primeira missa enquanto Sumo Pontíice. Na celebração presenciada por todos os cardeais eleitores e por mais algumas pessoas, que encerrou o Conclave, o recém-eleito Papa fez uma homília curta mas cheia de convicção. «Caminhar, edificar e professar Jesus Cristo crucificado» foi a chamada para ação deixada pelo Papa, depois de se referir a estes três termos como o que de mais importante ressaltou das leituras anteriormente proclamadas.

«Caminhar na luz do Senhor foi a primeira coisa que Deus disse a Abraão. A nossa vida é um caminho, e quando paramos é porque algo não está bem. Devemos caminhar sempre à luz do Senhor», referiu o Papa, depois de sublinhar que devemos «edificar» sobre a pedra angular, com a confiança naquele que é «Nosso Senhor».

Referindo-se à necessidade de «professar» Jesus Cristo, o Papa Francisco foi claro nas suas palavras. «Podemos caminhar e edificar, mas se não testemunhamos Jesus Cristo, de nada serve. Sucede como com as crianças que constroem castelos na areia. Quando não se professa Jesus Cristo, professa-se a mundanidade do Diabo», acusou o Papa Francisco.

O Sumo Pontífice não deixou de olhar para dentro da Igreja, aproveitando a reflexão que Jesus fez em Cesareia, quando pergunta aos discípulos quem eles acham que Ele é, lida no Evangelho, e que serviu de mote para a homília. «Quando professamos um Cristo sem cruz não somos discípulos do Senhor, somos mundanos. Somos bispos, padres, cardeais, Papas, mas não discípulos do Senhor», defendeu, num tom crítico.

Depois disto, deixou um desafio: «Tenhamos coragem de caminhar na presença do Senhor, com a cruz do Senhor, e edificar a Igreja sobre o sangue que derramou sobre a cruz, e professar a única glória de Cristo, que foi na cruz», disse o novo Papa.

Para sexta-feira, às 11h00 locais, está prevista uma audiência a todos os cardeais, na sala clementina do Palácio do Vaticano, e sábado vai decorrer um encontro com profissionais da comunicação social, à mesma hora. O primeiro Angelus na Praça de São Pedro vai ser recitado, com a presença de peregrinos, a partir do meio-dia de domingo.

A missa para a "solene inauguração" do pontificado será celebrada na Praça de São Pedro esta terça-feira, a partir das 09h30 de Roma, uma data simbólica: a solenidade litúrgica de São José, patrono da Igreja. No dia seguinte, terá lugar uma "audiência a delegados fraternos", de outras comunidades cristãs, sem realização da tradicional audiência geral.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Um Papa argentino

D. Jorge Mario Bergoglio foi hoje eleito Papa e adotou o nome de Francisco. O antigo arcebispo de Buenos Aires assomou hoje à varanda de S. Pedro, perante o delírio da multidão que enchia a Praça de S. Pedro. Nem a chuva nem o frio afastaram a multidão imensa que desde o início da tarde começou a encher a praça.

Perante este espetáculo arrepiante, as primeiras palavras arrancaram um sorriso e muitos aplausos aos fiéis. «O objectivo do Conclave era o de dar um bispo a Roma, e os meus colegas cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo», disse o Papa Francisco. As primeiras palavras foram para o Papa emérito Bento XVI. «Obrigado, mas antes de mais queria deixar uma menção ao Papa emérito Bento XVI, que o Senhor o bendiga», disse, antes de rezar com a multidão um Pai Nosso em memória do Papa emérito.

Este sacerdote jesuíta, de 76 anos, é o primeiro Papa argentino e sul-americano e a sua eleição esteve eminente no último Conclave, quando foi votado quase em igualdade com o então cardeal Joseph Ratzinger. Na altura, terá pedido que não votassem nele, o que ajudou a definir a votação para o lado daquele que seria eleito Papa. Desta vez, no entanto, à 5ª votação, o Papa Francisco não recusou o cargo. «Vamos começar este caminho de confiança e fé entre nós. Rezemos por todo o mundo, para que exista uma grande fraternidade, e que este caminho de Igreja que hoje começamos seja frutuoso para esta bela cidade», disse o recém-eleito Papa.

Antes da bênção urbi et orbi, o novo Papa pediu um «favor» à multidão. «Irei dar-vos a bênção, mas antes peço um favor: rezem ao Senhor por mim para que seja abençoado. Façamos silêncio e recebamos a bênção», disse, antes de lhe ser colocada a estola papal Seguiu-se a bênção, acompanhada de um silêncio total e completo da parte dos fiéis presentes na Praça de S. Pedro.

No final, o Papa despediu-se agradecendo o acolhimento. «Agradeço muito o acolhimento. Rezem por mim que eu amanhã vou rezar a Maria. Uma boa noite e um bom repouso», concluiu.

Habemus Papam

Sai fumo branco no topo da Capela Sistina, o que significa que a Igreja Católica já tem um Papa eleito. Aguarda-se agora que as janelas da varanda da Basílica de S. Pedro se abram para a multidão que enche a Praça de S. Pedro e observa pelos televisões e internet possa receber a primeira bênção apostólica.

O procedimento de apresentação ao povo será também diferente do habitual, segundo explicou o porta-voz da Santa Sé. O cardeal que preside ao Conclave pergunta se ele aceita o cargo para o qual foi eleito, e qual o nome pelo qual quer ser conhecido. Depois ele vai à Sala das Lágrimas e veste as suas vestes, seguida de uma oração na qual se lê um excerto do Evangelho em Cesareia, onde Jesus pergunta «quem dizem os homens que é o Filho do Homem?».

Após esta oração, os cardeais e o novo Papa saem em procissão e param na Capela Paulina, onde o Papa entra sozinho e reza perante o Santíssimo Sacramento, e só depois seguem todos para a varanda da Basílica de S. Pedro, onde o novo Sumo Pontifíce é apresentado à multidão. Nesse momento, o Papa deverá dizer umas palavras e dar a sua primeira benção postólica, que dará indulgência plenária a quem estiver na Praça de S. Pedro.

O porta-voz do Vaticano sublinhou, por outro lado, que a missa de início de pontificado pode acontecer num dia de semana e «não necessariamente ao domingo», desde que tenha passado o tempo considerado «oportuno» para a chegada de delegações políticas e religiosas para a cerimónia. A data desta celebração será comunicada «pouco depois» da eleição do Papa, anunciou.



É tempo agora de aguardar para ver quem assoma à varanda…

Fumo negro na chaminé mais vista do mundo


Não saiu ainda fumo branco da chaminé da Capela Sistina. As votações desta manhã voltaram a ser inconclusivas, e um fumo negro espesso saiu do telhado da Capela Sistina, em Roma, onde decorre o Conclave.

Se as votações da manhã não tiverem sucesso, os cardeais regressam por volta das 12h30 de Roma (menos uma em Lisboa) à Casa de Santa Marta, no Vaticano, onde almoçam.
Neste local, os cardeais estão também proibidos de qualquer contacto com o exterior e vão ver apenas os responsáveis pelos serviços de limpeza, alimentação e segurança, para além dos condutores dos veículos que fazem o percurso entre a Casa de Santa Marta e o Palácio do Vaticano, todos eles sujeitos a juramento de segredo, sob pena de excomunhão.

Às 16h00 os prelados voltam à Capela Sistina, prevendo-se que os escrutínios comecem às 16h50.
Caso os sufrágios tenham sido inconclusivos, os eleitores recitam a oração de Vésperas às 19h15, e regressam, 15 minutos depois, à Casa de Santa Marta, na qual residem durante o Conclave.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Primeira votação deverá dar «fumo negro»

O porta-voz do Vaticano apresentou hoje no Vaticano os ritos relativos à entrada dos 115 cardeais eleitores no Conclave que se vai iniciar esta terça-feira, antecipando o «fumo negro» após a primeira votação. «É de esperar uma 'fumata' [fumo que sai da chaminé da Capela Sistina] negra», disse o padre Lombardi, segundo o qual «dificilmente» o primeiro escrutínio «tem um resultado positivo». O diretor da sala de imprensa da Santa Sé recordou que em 2005, no Conclave que elegeu Bento XVI, a primeira 'fumata' ocorreu pelas 20h04 (menos uma em Lisboa).

Hoje as cerca de 90 pessoas que constituem o corpo de apoio ao Conclave irão prestar o seu juramento. Este conjunto de pessoas engloba pessoal administrativo, confessores, «que prestarão todo o tipo de serviços necessários ao bom funcionamento do Conclave» explicou o Pe Lombardi na conferência de imprensa desta manhã em Roma.

Funcionamento do ConclaveApós a missa votiva pela eleição do Papa, que vai ser celebrada na manhã de terça-feira, os cardeais eleitores vão transferir-se da Casa de Santa Marta, onde residem durante o processo eleitoral, para a Capela Paulina, no Palácio Apostólico do Vaticano, às 15h45 locais. A procissão rumo à Capela Sistina, que acolhe os escrutínios, tem início marcado para as 16h00, ao som do canto 'Veni Creator', para pedir a assistência do Espírito Santo.
Participam na procissão o vice-camerlengo, o auditor geral da Câmara Apostólica e dois membros de cada um dos colégios dos protonotários apostólicos [cónegos das basílicas papais], dos prelados auditores da Rota Romana [tribunal] e dos prelados clérigos da Câmara Apóstolica [Santa Sé]. O rito de entrada na Capela Sistina vai ser presidido por D. Giovanni Battista Re, prefeito emérito da Congregação para os Bispos, o primeiro cardeal na ordem de precedência utilizada nas procissões, juramentos e votações, dado que o cardeal decano [presidente do Colégio Cardinalício), D. Angelo Sodano, tem mais de 80 anos de idade e não participará no Conclave. «Toda a Igreja, unida a nós na oração, invoca sem cessar a graça do Espírito Santo para que seja eleito por nós um Pastor digno de todo o rebanho de Cristo», refere a oração que acompanha a entrada na capela. As orações e os rituais próprios do Conclave estão descritos num livro litúrgico próprio (Ordo rituum Conclavis).

Os cardeais eleitores prestam, em primeiro lugar, o juramento de "segredo" sobre tudo o que diz respeito à eleição do Papa e comprometem-se a desempenhar fielmente a sua missão caso sejam escolhidos como o novo pontífice. Terminado o juramento, todas as pessoas estranhas à eleição saem após a ordem 'Extra Omnes' (todos fora), momento previsto para as 16h45 de Roma: permanecem apenas o mestre das celebrações litúrgicas e o eclesiástico escolhido para a segunda meditação, o cardeal maltês D. Prosper Grech.
O padre Lombardi recordou que a cerimónia, do início da procissão ao 'extra omnes' durou "cerca de uma hora" em 2005.
Caso os cardeais decidam proceder a um primeiro escrutínio, o resultado será comunicado através do fumo (branco, caso haja uma maioria de dois terços, ou negro), que deverá ser visível por volta das 20h locais (menos uma em Lisboa), seguindo-se a recitação da oração de vésperas e o regresso à Casa de Santa Marta.

Quando for eleito, o procedimento de apresentação ao povo será também diferente do habitual, segundo explicou o porta-voz da Santa Sé. O cardeal que preside ao Conclave pergunta se ele aceita o cargo para o qual foi foi eleito, e qual o nome pelo qual quer ser conhecido. Depois ele vai à Sala das Lágrimas e veste as suas vestes, seguida de uma oração na qual se lê um excerto do Evangelho em Cesareia, onde Jesus pergunta «quem dizem os homens que é o Filho do Homem?». Após esta oração, os cardeais e o novo Papa saem em procissão e param na Capela Paulina, onde o Papa entra sozinho e reza perante o Santíssimo Sacramento, e só depois seguem todos para a varanda da Basílica de S. Pedro, onde o novo Sumo Pontifíce é apresentado à multidão. Nesse momento, o Papa deverá dizer umas palavras e dar a sua primeira benção postólica, que dará indulgência plenária a quem estiver na Praça de S. Pedro.

O porta-voz do Vaticano sublinhou, por outro lado, que a missa de início de pontificado pode acontecer num dia de semana e «não necessariamente ao domingo», desde que tenha passado o tempo considerado «oportuno» para a chegada de delegações políticas e religiosas para a cerimónia. A data desta celebração será comunicada «pouco depois» da eleição do Papa, anunciou.

Vem aí o Conclave

Terminadas que estão as Congregações gerais dos cardeais em Roma, todas as atenções se voltam para o Conclave, que elegerá o próximo Papa. Por todo o mundo, diversos órgãos de comunicação social têm alvitrado palpites sobre quem será o próximo Papa, mas a tradição diz que, no Conclave, «quem entra Papa sai Cardeal». Nem Karol Wojtyła nem Joseph Ratzinger estavam nos planos dos «especialistas» que, por estes dias, enchem televisões, rádios e jornais com opiniões de quem é a melhor pessoa para assumir a Cadeira de S. Pedro, e no entanto foram escolhidos para serem Papas.

Parece contra natura que num tempo em que a comunicação e o mediatismo cercam todos os acontecimentos importantes, a Igreja se feche em silêncio e “segredo” e impeça que 5600 jornalistas, provenientes de mais de 1000 órgãos de comunicação social, possam noticiar todos os pormenores sobre este acontecimento histórico. Mas isto é apenas a Igreja a manter-se fiel às suas raízes. O caminho de discernimento que leva à escolha de um Papa não pode ser interrompido por questões menores como entrevistas, opiniões ou reações, é uma jornada de reflexão íntima, que será levada a cabo pelos cardeais num espaço previamente isolado de toda a comunicação com o mundo exterior. Sem televisão, internet ou rádio, pois nada mais interessa naquele momento que não seja a eleição do Pastor da Igreja Católica para os próximos anos. Posição, aliás, à qual não se opõem os católicos, que apenas desejam que a escolha do próximo Papa seja influenciada pelo Espírito Santo, não por nenhum TotoPapa que se faça em casas de apostas ou por influência deste ou daquele grupo de pressão.

Não podendo adivinhar quem será o próximo Papa, nem podendo saber que conversas entre cardeais aconteceram esta semana, resta-nos seguir as «migalhas» que nos foram sendo deixadas quer pela Sala de Imprensa da Santa Sé, onde o Pe. Lombardi tentou, todos os dias, auxiliar o máximo possível os jornalistas presentes em Roma, fornecendo-lhes pistas, e as próprias declarações dos cardeais americanos, que nos primeiros dias falavam para a imprensa americana, hábito rapidamente quebrado depois de uma partilha da parte dos cardeais numa das congregações, na qualificou clara que o silêncio era a “alma do negócio”.

Antes de mais, é interessante verificar que antes de se iniciarem as congregações gerais, já os cardeais se escusavam a tecer grandes considerações sobre o próximo Papa. Apesar disso, em grande parte dos discursos, aquilo que parecia mais comum a todos era o aspeto da idade. Parece senso comum entre os cardeais que a Igreja precisa de um Papa mais novo, que promova um pontificado mais longo e estável que o anterior. D. José Policarpo, aliás, falando aos jornalistas em Lisboa, afirmava que a história era fã destes ciclos: «a um pontificado mais curto, segue-se sempre um mais longo», dizia o prelado ainda em Lisboa.

Depois destas considerações, vieram as Congregações, reuniões de todos os cardeais onde basicamente se ouviam intervenções de cardeais que se propunham falar. Foram mais de 100 os cardeais que pediram a palavra e a usaram. Não se conhece o conteúdo das intervenções, nem os seus autores, mas o Pe. Lombardi lá foi adiantando os tópicos de conversa mais debatidos por esses dias:

- Renovação da Igreja à luz do Concílio Vaticano II,
- Situação da Igreja e as exigências da Nova Evangelização no mundo e a relação da Igreja com as diferentes culturas
- Ecumenismo
- Esforços da Igreja no trabalho caritativo, com os pobres
- Diálogo inter-religioso, que ainda não se tinha falado
- Cultura, bioética, justiça no mundo
- Importância de um anúncio positivo do cristianismo

Além destes temas, o Pe. Lombardi referiu ainda que tinha sido preocupação dos cardeais que intervinham falar naquele que seria o perfil do próximo Papa. Esta insistência em abordar este assunto da parte dos cardeais reforça a ideia de que este será um Conclave rápido, como o anterior, já que este trabalho de partilha de ideias e conceções prévio permitiu criar senão um, pelo menos alguns perfis sobre quem poderiam os cardeais escolher para liderar a Igreja.

Obviamente que não é possível traçar daqui um perfil do Papa, ou indicação de quem será o eleito, mas é possível perceber a preocupação dos cardeais com as questões mais relacionadas com a relação da Igreja para fora – os pobres, o ecumenismo, o diálogo inter-religioso – e com a relação da Igreja para com os seus fiéis, com as intervenções dos cardeais que quiseram falar sobre a renovação da Igreja, a Nova Evangelização e um anúncio positivo do Cristianismo. Mais do que propriamente discutir os fundamentos da fé ou as razões que poderiam conduzir a alterações dentro da própria Igreja, temas cuja pressão de tantos jornais e grupos externos à Igreja poderiam colocar aos cardeais, sai destas reflexões uma aparente necessidade de continuar a trilhar o caminho começado por João Paulo II e continuado por Bento XVI, no sentido da Nova Evangelização, do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, e do trabalho caritativo, uma das áreas onde a Igreja é cada vez mais essencial nos dias de hoje.

Foto L'Osservatore Romano
Ler mais do que isto é difícil, e provavelmente não interessa. É altura de deixar o Espírito Santo atuar, e aguardar com serenidade orante, coisa que, parecendo estranha ao mundo mediático e exterior, é tão correto para quem se habituou a uma vida de oração e de certeza de que somos mais do que corpo. A partir de amanhã, o mundo aguarda em suspenso pelo fumo branco que sairá da Capela Sistina, preparando-se para correr em direção à Praça de S. Pedro, ou ao televisor ou computador mais próximo, conforme a localização geográfica de cada católico, para receber o próximo Papa. Sem pressas, exigências ou expectativas, mas em oração.

Ricardo Perna
Revista Família Cristã

sábado, 9 de março de 2013

Missa do Conclave às 9h

A missa que antecede o início do Conclave para a eleição do novo Papa vai ser celebrada às 10h00 (menos uma hora em Lisboa) da próxima terça-feira, revelou hoje o porta-voz da Santa Sé. A eucaristia na Basílica de São Pedro, denominada em latim "Pro eligendo Romano Pontifice", é presidida pelo cardeal decano, D. Angelo Sodano, anunciou o padre Federico Lombardi em conferência de imprensa, citado pela Agência Ecclesia.

O fumo negro ou branco que sairá da chaminé da Capela Sistina para indicar, respetivamente, se a eleição prossegue ou se foi escolhido o novo Papa, deve ser esperado pelo meio-dia e às 19h00, referiu o responsável, sublinhando que se trata de horário «indicativo».
A queima dos boletins de voto e a produção do fumo nas salamandras instaladas na Capela Sistina decorre após os dois escrutínios agendados para a parte da manhã e da tarde, podendo ser acompanhada ao vivo através de uma câmara de vídeo, explicou. Se a eleição do novo Papa ocorrer no primeiro escrutínio da manhã, o fumo branco deverá sair entre as 10h30 e as 11h00.
Caso a escolha se realize na primeira votação da tarde, como aconteceu em 2005 com a eleição do Papa emérito Bento XVI, pode esperar-se fumo branco entre as 17h30 e as 18h00, disse o sacerdote. O fumo branco é acompanhado pelo repicar dos sinos, aguardando-se que entre a aceitação da eleição pelo novo Papa e o seu aparecimento público na varanda central da Basílica de São Pedro passem cerca de 45 minutos, assinalou.

O padre Federico Lombardi informou que na terça-feira, pelas 16h30, está agendada a procissão dos cardeais da Capela Paulina do Palácio Apostólico para a Capela Sistina, seguida do juramento, momentos que vão ser transmitidos em direto pela televisão e internet. Após o juramento todas as pessoas que não podem participar na eleição saem da Capela Sistina, à exceção do cardeal maltês Prospero Grech, especialista na vida e obra de autores dos primeiros séculos do cristianismo, que dirige uma meditação. Após a saída do prelado, impedido de eleger o Papa por ter mais de 80 anos à data do início da Sede Vacante (28 de fevereiro), poderá decorrer o primeiro escrutínio, se os cardeais eleitores assim o entenderem, indicou o porta-voz.

Pelas 19h15 são rezadas as Vésperas, uma das orações diárias que deve ser obrigatoriamente rezada pelo clero e religiosos, e facultativamente pelos leigos. O sacerdote explicou que o regresso à Casa de Santa Marta, onde os prelados eleitores ficam alojados durante o Conclave, está previsto para as 19h30, seguindo-se o jantar. Na quarta-feira os cardeais deslocam-se às 07h45 para o Palácio Apostólico, e das 08h15 às 09h15 celebram missa na Capela Paulina, espaço de todas as eucaristias durante o Conclave.

Às 9h30 entram na Capela Sistina e rezam a Hora Intermédia, seguindo-se os escrutínios e o regresso, às 12h30, à Casa de Santa Marta, onde almoçam pelas 13h00, disse o padre Federico Lombardi. Pelas 16h00 os prelados voltam à Capela Sistina, prevendo-se que os escrutínios comecem às 16h50, antes da oração de Vésperas às 19h15, e regresso, 15 minutos depois, à Casa de Santa Marta, adiantou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Conclave inicia dia 12

O Conclave para a eleição do novo Papa vai começar esta terça-feira, anunciou hoje a Santa Sé, citada pela Agência Ecclesia. A decisão foi tomada após votação realizada na oitava congregação (reunião) geral realizada esta tarde no Vaticano, com a presença de mais de 150 cardeais, entre os quais os 115 que têm direito a eleger o sucessor de Bento XVI.

O início do Conclave poderia ser estabelecido desde que se verificasse a presença de todos os cardeais eleitores, condição que estava cumprida dado que o Colégio Cardinalício aceitou esta manhã os motivos apresentados pelos restantes dois prelados que têm direito a voto para não estarem no Vaticano.
Na conferência de imprensa realizada hoje o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, revelou que a hora da missa que antecede o Conclave vai ser comunicada noutro dia.

Data do Conclave decidida hoje

© L'Osservatore Romano
Já com a presença de todos os cardeais eleitores, a reunião desta manhã das congregações gerais dos cardeais determinou que a decisão sobre a data de início do Conclave será tomada estar tarde, no final dos trabalhos da reunião da tarde. O Pe. Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, informou os jornalistas há minutos na Sala de Imprensa da Santa Sé que é pouco provável que o Conclave seja marcado já para este fim-de-semana. «Não deverão decidir começar no fim-de-semana, mas a partir de 2f é possível que seja marcado. Em 2005 esperaram-se 3 dias entre o fim das congregações e o início do Conclave, mas não há nenhuma regra quanto a isso. Temos de aguardar a data de início do Conclave, e tudo o resto se começará a encaixar a partir dessa decisão», disse.

Sobre os trabalhos desta manhã, o Pe. Lombardi informou que estiveram presentes 153 cardeais, sendo que os 115 eleitores já fizeram parte, tendo o último cardeal eleitor feito o seu juramento na congregação da parte da tarde de ontem. Uma das primeiras coisas feitas pelos cardeais, depois de assinalarem em internvenções o Dia da Mulher, foi aprovar, segundo indica o ponto 3 da Constituição Apostólica Universi Domini Gregis, os motivos que levaram dois dos cardeais eleitores, o de Jacarta e o cardeal O'Brien, a estarem ausentes do Conclave. Recorde-se que o cardeal de Jacarta, D. Julius Riyadi Darmaatmadja, alegou motivos de saúde, e o cardeal O'Brien motivos pessoais, relacionados, segundo o próprio, com os casos de abusos em que se tinha visto envolvido e que poderiam desviar as atenções do trabalho da eleição do novo Sumo Pontífice.

Entre os temas abordados nas 16 intervenções desta manhã, que elevam para cima de 100 o totla de intervenções nestas congregações gerais, estão o «diálogo inter-religioso, que ainda não se tinha falado, cultura, bioética, justiça no mundo, e a importância de um anúncio positivo do cristianismo», indicou o Pe. Lombardi.

O Pe. Lombardi referiu ainda que estava a ser visto «com muito agrado» a iniciativa de um sítio Web que propunha aos fiéis adotarem um cardeal para rezarem por ele durante este tempo de decisões importante, e que já junta mais de 350 mil pessoas.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Cardeais falam sobre trabalho caritativo da Igreja

Continua sem estar marcada a data para o início do Conclave. O Pe. Federico Lombardi regressou à sala de imprensa para o briefing diário ainda sem uma data fixada, e apenas com a informação de que o cardeal de Varsóvia já tinha prestado juramento, faltando apenas o cardeal vietnamita, D. Jean-Baptiste Pham Minh Mân, que deveria juntar-se aos trabalhos já esta tarde, quando eles reiniciarem.

Além da informação sobre as chegadas dos cardeais eleitores em falta, o porta-voz da Santa Sé afirmou que tomaram posse hoje três novos cardeais como assistentes do camerlengo no trabalho de gestão diária da Santa Sé, conforme prevêm as constituições que regulam o período de Sede Vacante.

Em termos das intervenções de hoje neste que foi o quarto dia de congregações gerais, tomaram a palavra 16 cardeais. Os três primeiros estão ligados ao dicastério da área económica da Santa Sé e fizeram um pequeno relatório das finanças da Santa Sé, conforme exige a Constituição Apostólica Pastor Bonus.

Depois destas intervenções, os temas ficaram mais abrangentes. «As outras intervenções foram muito gerais, sem temas específicos, batendo nos temas que já foram falados em dias anteriores. Ecumenismo e os esforços da Igreja no trabalho caritativo, com os pobres, foram as temáticas mais ouvidas», disse o Pe. Lombardi aos jornalistas presentes na Sala de Imprensa, sempre sem adiantar quem são os autores das intervenções.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Cardeais rezam pela Igreja com os fiéis

Os cardeais presentes em Roma celebraram hoje na Basílica de São Pedro um encontro de oração «pela Igreja», num momento em que se prepara a eleição de um novo Papa, após a renúncia de Bento XVI ao pontificado. A celebração, no altar da Cátedra de São Pedro, primeiro Papa da Igreja, começou com a recitação dos mistérios gloriosos do Rosário, que evocam várias passagens da vida de Jesus e de Maria, em latim, noticia a Agênia Ecclesia.

Dezenas de cardeais foram acompanhados por bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos. A celebração incluiu a recitação de vésperas e adoração eucarística, sob a presidência do arcipreste da basílica, cardeal cardenal Angelo Comastri. Os momentos de oração tiveram transmissão em direto através do Centro Televisivo do Vaticano, disponível na internet.

Os cardeais decidiram hoje «intensificar» o ritmo dos seus encontros de trabalho, com reuniões de manhã e à tarde na quinta-feira. As reuniões [congregações] gerais, que decorrem desde segunda-feira, têm de tomar uma série de decisões, do alojamento dos cardeais aos preparativos para o processo de eleição na Capela Sistina, antes de determinar a data de início do próximo Conclave.

Além destas, há 'congregações particulares', com a presença do cardeal camerlengo (D. Tarcisio Bertone) e três outros cardeais, sorteados a cada três dias. A Câmara Apostólica, presidida pelo camerlengo, tem como função «custodiar» os bens da Igreja.

Cardeais eleitores todos juntos amanhã

O Pe. Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, anunciou hoje que os dois cardeais eleitores em falta, D. Jean-Baptiste Pham Minh Mân, do Vietname, e D. Kazimierz Nycz, da Polónia, irão juntar-se amanhã e hoje, respetivamente, ao colégio cardinalício. Isto depois de hoje terem já prestado juramento os outros três que faltavam: D. Antonius Naguib, do Egito; D. John Tong Hon, de Hong Kong, China; e D. Karl Lehmann, da Alemanha. Além dessa medida, os cardeais decidiram hoje que amanhã haveria também trabalhos das congregações da parte da tarde. Uma vez que não foi anunciada data de início do Conclave, a expetativa é de que, nos trabalhos de amanhã, se possa chegar a uma conclusão sobre a data de início do Conclave que elegerá o novo Papa.

Em relação aos trabalhos de hoje, o conjunto de 153 cardeais começou por dar os parabéns a três cardeais que já celebraram ou irão celebrar o seu aniversário durante as congregações, antes de se debruçarem sobre outros assuntos. «Houve 18 intervenções de cardeais de todo o mundo, sobre assuntos muito diversos, que eleva o total para 51 cardeais que já intervieram, de todos os continentes. O tema principal abordado acabou por ser a Igreja no mundo de hoje, as exigências da Nova Evangelização, relatórios dos dicastérios da Santa Sé. Também se falou do perfil do novo Papa, o que se espera que o novo Papa faça», informou o Pe. Lombardi, sem entrar em pormenores sobre os aspetos discutidos em relação ao perfil do novo Papa.

Esta demora na fixação da data deve-se, segundo o porta-voz da Santa Sé disse aos jornalistas hoje, a um caminho de preparação e reflexão que está a ser feito pelos cardeais. «Sente-se no colégio de cardeais vontade de uma preparação séria, aprofundada, e não se sentiu oportuno decidir ainda uma data sobre o Conclave, em respeito à dinâmica de reflexão e ponderação que se está a seguir», disse o Pe. Lombardi, que acrescentou que não é correto fazer uma ligação entre esta demora e a expetativa de um Conclave rápido. «Este é um tempo de reflexão e não significa que se esteja a demorar o início do Conclave para que depois o Conclave seja muito rápido, não faz sentido fazer essa ligação», defendeu.

Os cardeais americanos cancelaram a sua habitual conferência de imprensa para hoje, o que sausou alguma entranheza. Questionado várias vezes sobre isso por parte dos jornalistas americanos, o Pe. Lombardi disse desconhecer as razões oficiais, mas falou numa necessidade de recolhimento e deum «caminho» diferente de outros eventos. «Pode ser que entre os cardeais tenham decidido as melhores formas de passar a comunicação para fora, mas isso é algo sobre o qual não nos pronunciamos. No entanto, estas congregações gerais seguem um caminho diferente de um Sínodo ou de um Congresso, onde se tenta passar o máximo de informação. Aqui o processo é diferente», disse o porta-voz, apesar de reforçar a vontade de dar o máximo de informação possível à opinião pública.

Sobre a morte de Hugo Chávez, o Pe. Lombardi informou que o cardeal Jorge Ursoa Savino já manifestou as suas condolências, e que não tinha nenhuma informação sobre uma mensagem ou comunicado oficial da parte de qualquer organismo da Santa Sé sobre o assunto.

O próximo Papa «tem de procurar resolver os problemas da Família»

O Cardeal Saraiva Martins é um dos sete cardeais bispos existentes na Igreja. Depois de anos a proclamar beatos e santos, Bento XVI atribuiu-lhe este cargo de importância. Numa entrevista concedida à Família Cristã e ao Diário de Notícias, falou de Bento XVI e do seu sucessor.  

O que fica do pontificado de Bento XVI? 
Deixa coisas muito positivas. Deve ser considerado uma continuação do pontificado de João Paulo II. As pessoas contrapõem um contra o outro, mas Bento XVI não fez senão seguir as pegadas do seu predecessor. Com uma estrutura diferente, um modo de ser diferente. Há uma identidade absoluta entre os dois Papas.

Quais são os problemas que o novo Papa terá de abordar? 
O Papa tem de governar consoante as necessidades do momento. Tem de procurar resolver os problemas da família, para mim é o problema fundamental. Pois há muitos outros problemas que dependem do problema da família, como o problema da juventude. Somos responsáveis pela sociedade de amanhã, de formar os jovens com valores. Há certos valores humanos que hoje são muito descuidados, e que são também valores cristãos. Porque tudo o que é autenticamente humano é cristão e tudo o que é genuinamente cristão é humano. Quando a igreja defende os jovens e os valores humanos defende uma realidade que é humana e cristã. Sem esquecer os problemas da paz, que também são fundamentais.

Acha que o Papa devia ter uma abordagem mais concreta para os problemas? 
Isso não depende só do Papa, mas dos pastores da igreja universal. O Papa pode indicar o caminho a seguir, mas depois são os bispos e padres que têm de insistir sobre esses valores.

Qual o perfil do próximo Papa? 
Tem de seguir as pegadas de João Paulo II e Bento XVI. Enfrentar esses problemas. O novo Papa tem de sair das pegadas dos seus dois antecessores.

A sociedade fala da contraceção, da ordenação das mulheres… 
A igreja preocupa-se também com esses problemas, não porque a sociedade dita para a agenda da igreja, mas porque acredita que são contra o Evangelho. A sociedade pode levantar a voz, mas a igreja está atenta. Outro valor fundamental para a Igreja é a heterossexualidade. Para a igreja é evidente que Deus criou o homem e a mulher, pelo que é inútil criar certas teorias. E a igreja defenderá sempre estes valores, independentemente do rumo que a sociedade tomar. E ainda bem que a Igreja é sempre muito firme a defender estes valores.

É um dossiê fechado, que não tem de ser modificado? 
Os princípios não. Depois há a questão dos direitos dos homossexuais e das uniões de facto. Os governos têm o dever de defender os direitos dessas pessoas, mas não se pode negar a realidade. A igreja será sempre contra a homossexualidade e as uniões de facto. Muitos governos da europa procuram que essas uniões de facto prevaleçam. Se pensam que podem viver homem com homem é questão deles, mas não é este o valor do Evangelho, do Homem. A igreja não ignora que essa realidade existe. Claro que qualquer homem tem direito, do ponto de vista económico e social, de ser como entende. Naturalmente a igreja sabe que os governos têm de ajudar os que estão nesta situação, mas nunca negará os princípios do Evangelho.

A igreja também tem estes problemas no seio do clero... 
Na igreja há pecadores, já foi previsto por Jesus, por isso instituiu o sacramento da Reconciliação. A igreja necessita de se santificar. Nunca negou que no seu seio há pessoas que não seguem os princípios do Evangelho, mas não é preciso exagerar. Há um caso ou outro, mas não se pode exagerar e generalizar. Quem é homossexual sabe bem o que diz a igreja, depois se peca por fraqueza é outra coisa.

Como é a experiência de participar num Conclave? 
(risos) Lá dentro não acontece nada de especial, tudo acontece com a maior naturalidade e serenidade. Vivemos juntos e comemos juntos aqueles dias, é como se fossemos uma família. Cada um já está a pensar em quem vai votar. Não combinam encontros. Mas se tenho alguma dúvida, o que pensa aquele colega, vou ter com ele diretamente. Porque há muitos cardeais que não se conhecem entre si, há as congregações três dias antes, onde todos os cardeais se reúnem para discutir os problemas reais da sociedade e da igreja que terá de enfrentar o novo Papa. Ficam todos a conhecer os problemas dos locais onde estes cardeais vêm.

Tendo em conta as notícias que têm vindo a público, acha que os cardeais que vêm de fora virão pedir contas aos da Cúria, do género, «digam lá o que se esta passar»? 
E agora pergunto eu: quais são esses problemas da Cúria? Posso-lhe dizer que não há problemas na Cúria. Pode haver uma diversidade de opiniões, mas com plena liberdade discute-se.

O Papa pediu um relatório a três cardeais. Acha que deve ser divulgado no Conclave? 
É uma decisão do Papa. No Conclave não se discute, discute-se antes. É só para votar. É preciso proceder com muita prudência, não para ocultar as coisas, pois pode ser perigoso. É preciso ver o que lá se diz. Nem tudo o que acontece, se pode dizer assim, a bem da sociedade. Acabam por sair conversas, mas modificadas nas notícias. Acho que o Papa que vier se quiser pode divulgar. Acho que sim.

Fala-se muito na reforma da cúria. É importante avançar com ela?
É normal que se pense na reforma da cúria, é uma instituição que pode ser modificada. Já no outro Conclave se falava muito de reformar a Cúria. Não há norma que diga que não se pode reformar. A reforma é necessária em todos os campos da sociedade. Mas é preciso estudar antes a melhor forma de a fazer.

terça-feira, 5 de março de 2013

Ban Ki-moon elogia Bento XVI

A sabedoria de Bento XVI, o compromisso com o diálogo inter-religioso e a promoção dos direitos humanos estão entre os destaques que o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, faz do pontificado que chegou a um final tranquilo a 28 de Fevereiro. Na sexta-feira, Ban Ki-moon falou à Rádio Vaticano sobre o seu apreço pelo pontífice que recentemente resignou. «Estamos muito gratos pela sua orientação espiritual e de liderança, que ele (...) demonstrou como Papa», comentou.

«Eu expresso na minha carta a Sua Santidade o meu mais profundo apreço e respeito pelo seu compromisso com o diálogo inter-religioso e por ter enfrentado desafios globais, como a redução da pobreza e da fome, a promoção dos direitos humanos e dignidade, paz e harmonia no mundo », continuou.

«Espero sinceramente que a sabedoria demonstrada durante o seu pontificado possa ficar como um legado sobre o qual se poderá construir um maior diálogo e tolerância para que todos nós sejamos capazes de viver num mundo de paz e harmonia", afirmou. Papa Bento XVI recebeu o Secretário-Geral em Roma e, posteriormente, visitou a sede da ONU em Nova Iorque em 2008.

Conclave ainda sem data, e 5 cardeais eleitores ainda por chegar


As congregações gerais desta manhã no Vaticano receberam a entrada e juramento de mais sete cardeais, sendo que apenas 2 deles são eleitores, o cardeal Rouco Varela, de Madrid, e o cardeal Zenon Grocholewski, prefeito da Congregação para a Educação Católica. Estiveram então presentes 148 cardeais nas congregações de hoje, segundo informou o Pe. Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, na sala de imprensa aos jornalistas. Isto significa que faltam cinco cardeais eleitores, enumerados pelo Pe. Lombardi: D. Antonius Naguib, do Egito; D. John Tong Hon, de Hong Kong, China; D. Jean-Baptiste Pham Minh Mân, do Vietname; D. Karl Lehmann, da Alemanha; D. Kazimierz Nycz, da Polónia.

«Os trabalhos de hoje constaram de 11 intervenções sobre a atividade da Santa Sé e dos diversos dicastérios, a renovação da Igreja à luz do Concílio Vaticano II, a situação da Igreja e as exigências da Nova Evangelização no mundo e a relação da Igreja com as diferentes culturas», disse o porta-voz da Santa Sé. O Pe. Lombardi explicou aos jornalistas que os cardeais inscrevem-se para falar perante todos, e vão falando por ordem, numa sucessão de intervenções. Não há tempo limite, e eles falam sobre o que querem, sendo que já falaram 37 até agora.

Depois destas intervenções, foi lido e apresentado o ponto 37 da Constituição Universi Dominici Gregis, que foi alterado por Bento XVI através de Motu Proprio para permitir que os cardeais possam antecipar o início do Conclave.

A sessão de hoje não determinou ainda nenhum data para início do Conclave, em virtude dos cardeais que faltam. «Não foi proposta nenhuma data para início, e não houve indicação de se querer acelerar o processo... no último conclave havia um calendário claro de eventos, mas desta vez não existe nenhum programa escrito», já que não houve morte do Papa nem as celebrações obrigatórias nos dias seguintes, indicou o Pe. Lombardi. Questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de os cardeais manterem contacto com o mundo cá fora durante as congregações, o Pe. Lombardi explicou que os cardeais ocupam o seu tempo livre da forma que entenderem. «Durante as congregações gerais, os trabalhos são entre cardeais, durante o Conclave será apenas entre os cardeais eleitores, mas no seu tempo livre antes do Conclave podem falar com quem entenderem», disse o Pe. Lombardi.

Telegrama de agradecimento a Bento XVI 
Uma das novidades que saiu do trabalho desta manhã dos cardeais foi a decisão de realizar uma celebração, provavelmente oração de vésperas, amanhã, às 17h, na Basílica de S. Pedro, presidida pelo cardeal Angelo Sodano, decano do colégio cardinalício, onde os fiéis que desejem se poderão juntar aos cardeais em oração pela eleição do Papa. «Irá ser uma oportunidade da Igreja toda rezar por este momento da Igreja, em conjunto com os cardeais», referiu o Pe. Lombardi.

Hoje também ficou aprovado o texto do telegrama que irá ser enviado pelo colégio cardinalício ao Papa emérito Bento XVI. «Agradecemos o exemplo que deu de generosa solicitude pastoral à Igreja e ao mundo, e o reconhecimento de toda a Igreja pelo trabalho feito na Vinha do Senhor», pode ler-se no documento que será disponibilizado na íntegra pela Família Cristã assim que for entregue.

Logística começa a preparar o Conclave 
A partir desta manhã estão encerradas as visitas à Capela Sistina e começam os trabalhos de preparação do espaço que irá receber o Conclave. Além das medidas de segurança, que visam garantir que não há nenhuma transmissão de informação cá para fora, vai ser efetuado um nivelamento do chão da capela, a fim de que seja colocada uma plataforma única ao nível do primeiro degrau do altar, que irá receber todos os cardeais, que assim ficarão todos ao mesmo nível. Serão também colocados dois fornos na capela, um para queimar os boletins de voto e outro para enviar o fumo branco ou negro no final de cada votação, «já que o fumo que sairia da queima dos boletins não seria suficiente para ser visível lá fora», explicou o Pe. Rosica, também presente na sala de imprensa da Santa Sé.

As urnas que servirão para colocar os votos dos cardeais
Quanto à votação, o Pe. Lombardi explicou que existirão três urnas para a votação. «Uma das urnas será para os cardeais colocarem os votos, outra será para depositar os votos depois de contados, e uma terceira fechada, que será levada aos cardeais que se vejam impossibilitados, por questões de saúde, de se deslocarem à Capela Sistina, para que possam votar».

Em termos de acreditações pedidas até ao momento por jornalistas, o Pe. Lombardi afirmou que estão mais de 5 mil jornalistas acreditados, sendo que 4432 têm acreditações temporárias, e 600 têm acreditação permanente. Estes jornalistas representam um total de 1004 órgãos de comunicação social, provenientes de 65 países, que falam um total de 24 línguas diferentes.

Não havendo ideia de quando chegarão os cardeais que faltam, resta aguardar pelas congregações de amanhã para perceber se já haverá data para o início do Conclave.

Só faltam 8 cardeais chegar

Na segunda-feira à noite o Colégio dos Cardeais reunidos na Sala Nova do Sínodo para a segunda congregação geral de preparação para o Conclave. Aos já presentes juntaram-se mais quatro Cardeais eleitores que juraram diante do Colégio, fazendo com que sejam apenas 8 os cardeais ausentes de Roma até ao momento, noticia a Rádio Vaticana. Os recém-chegados eram os cardeal libanês Bechara Rai, Patriarca da Igreja Maronita, os alemães Woelki, de Berlim, e Meissner, de Colónia, e o cardeal senegalês Sarr, de Dakar. 

Na segunda-feira a primeira de duas meditações foi realizada de acordo com a Constituição Apostólica que regula as transições papais. Foi conduzida pelo pregador da Casa Pontifícia, o capuchinho Frei Raniero Cantalamessa. Além disso, foi também decidido que a partir de terça-feira, as congregações gerais ocorrerão somente no período da manhã. Não haverá a segunda sessão da noite.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Cardeais ainda não definiram data de início do Conclave

O Vaticano revelou hoje que 12 dos 115 cardeais esperados para o próximo Conclave estiveram ausentes na primeira reunião (congregação) geral do Colégio Cardinalício, esperando-se a sua chegada nas próximas horas, avança a Agência Ecclesia. A presença de todos os cardeais eleitores é uma condição indispensável para se poder antecipar o período de espera de 15-20 dias após o fim do pontificado para se iniciar a escolha do novo Papa, segundo as disposições de Bento XVI publicadas há uma semana. «Não temos qualquer informação sobre o início do Conclave», referiram os responsáveis pela comunicação do Vaticano, em conferência de imprensa.

A reunião geral desta manhã reuniu 142 dos 207 cardeais da Igreja Católica, incluindo aqueles que, por terem mais de 80 anos de idade, não podem participar no Conclave. A constituição apostólica de João Paulo II que rege o período da Sé vacante – entre a renúncia de Bento XVI e a escolha de um sucessor – determina que os cardeais, na primeira congregação geral em que marcam presença, prestem «juramento sobre a observância das prescrições» que nela se contêm e sobre «a guarda do segredo» relativo a «tudo aquilo que, de qualquer modo, se relacione com a eleição do Romano Pontífice, ou que, por sua natureza, durante a vacância da Sé Apostólica, postule o mesmo segredo». As congregações gerais terão de tomar uma série de decisões, do alojamento dos cardeais aos preparativos para o processo de eleição na Capela Sistina, antes de determinar a data de início do próximo Conclave.

Esta manhã foi apresentada pelo decano [presidente] do Colégio Cardinalício, D. Angelo Sodano, a proposta de redação de uma mensagem do Colégio Cardinalício ao Papa emérito, Bento XVI. Os cardeais decidiram ainda confiar a primeira das meditações previstas durante a Sé vacante ao pregador da Casa Pontifícia, o padre Raniero Cantalamessa. Durante o tempo de debate, houve 13 intervenções dos presentes, destacou o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, em conferência de imprensa. Além destas reuniões gerais há 'congregações particulares', com a presença do cardeal camerlengo (D. Tarcisio Bertone) e três outros cardeais, sorteados a cada três dias. A Câmara Apostólica, presidida pelo camerlengo, D. Tarcisio Bertone, secretário de Estado de Bento XVI, tem como função "custodiar" os bens da Igreja. Os cardeais presentes em Roma vão voltar a reunir-se esta tarde.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Papa despediu-se como simples «peregrino»

Bento XVI despediu-se dos fiéis como um «peregrino», na última aparição pública do pontificado, que se concluiu às 20h00 de Roma (menos uma em Lisboa) por decisão do Papa, que apresentou a sua renúncia. «Sabeis que hoje é um dia diferente dos outros, já não sou Sumo Pontífice da Igreja - sou-o até às oito da noite, depois já não -, sou simplesmente um peregrino que inicia a última etapa da sua peregrinação nesta terra», declarou, desde a varanda do palácio apostólico de Castel Gandolfo, arredores de Roma, propriedade da Santa Sé.

O Papa emérito mostrou-se «feliz» à chegada a este local, vindo do Vaticano, de onde tinha partido em helicóptero, sobrevoando a Praça de São Pedro, às 17h07 de Roma. «Quero ainda com o meu coração, com o meu amor, com a minha oração, com a minha reflexão, com todas as minhas forças interiores, trabalhar para o bem comum, para o bem da Igreja e da humanidade», acrescentou, ao som das palmas dos presentes e dos sinos.

Bento XVI, de 85 anos, concedeu uma bênção aos presentes, «do fundo do coração», convidando todos a avançar «juntos no Senhor, pelo bem da Igreja e do mundo». «Obrigado, boa noite, obrigado a todos vós», foram as palavras finais do pontificado, iniciado em abril de 2005, por volta das 17h41 locais, após um discurso com pouco mais de dois minutos.


Bento XVI promete obediência ao futuro Papa
Ainda antes, no último encontro com os cardeais, Bento XVI prometeu a sua obediência «incondicional» ao próximo Papa. «Entre vós, entre o Colégio Cardinalício, está também o futuro Papa, ao qual já hoje prometo a minha incondicional reverência e obediência», disse.

O Papa, que apresentou a sua renúncia no último dia 11, com efeitos a partir das 20h00 (hora de Roma, menos uma em Lisboa) desta tarde, manifestou a sua «alegria» por encontrar-se com os mais de 140 cardeais presentes no Vaticano. «Quero dizer-vos que continuarei a estar por perto com a oração, especialmente nos próximos dias, para que sejais plenamente dóceis à ação do Espírito Santo na eleição do novo Papa: que o Senhor vos mostre aquele que é desejado por Ele», desejou, citado pela Agência Ecclesia.

O futuro Papa emérito diz que foi «uma alegria caminhar» com os cardeais desde a eleição pontifícia, em abril de 2005, frisando que a «presença e os conselhos» dos mesmos foram uma «grande ajuda». «Procuramos servir Cristo e a sua Igreja com amor profundo e total, que é a alma do nosso ministério. Demos esperança, a quem vem de Cristo, a única que pode iluminar o caminho», prosseguiu.

Joseph Ratzinger deixou votos de que o Colégio de cardeais «seja como uma orquestra, onde as diversidades, expressão da Igreja universal, concorram sempre para a harmonia superior e concorde».

A reunião com os cardeais decorreu na Sala Clementina do Palácio Apostólico, e começou uma saudação do decano [figura que preside ao Colégio Cardinalício], D. Angelo Sodano. Este responsável elogiou o «abnegado serviço apostólico» de Bento XVI em favor «da Igreja de Cristo e de toda a humanidade» e concluiu com uma expressão alemã, ‘Vergelt's Gott’ (que Deus o recompense).

Castel Gandolfo e, depois, o Vaticano
Bento XVI deverá manter-se no palácio apostólico de Castel Gandolfo, propriedade da Santa Sé, durante um período de pelo menos dois meses, segundo o Vaticano.

Joseph Ratzinger irá morar posteriormente, já após a eleição do seu sucessor, num edifício que foi sede de um mosteiro de irmãs de clausura no Vaticano até há alguns meses e foi alvo de obras de renovação.

O momento final do pontificado foi assinalado pela partida da Guarda Suíça e o encerramento dos portões da residência pontifícia.